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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Grupos religiosos e sociais

Ao lermos o Evangelho deparamos continuamente com vários grupos religiosos com os quais Jesus entra em conflito. Entre eles sobressaem os fariseus, os saduceus e os escribas, mas é preciso, contarmos também com os essénios, herodianos, baptistas, samaritanos e zelotas. Este estudo dos grupos religiosos ajudam-nos a perceber, pelo confronto e polémica gerados, a própria pessoa que é Jesus de Nazaré.

Este estudo dos diferentes grupos religiosos e sociais (que frequentemente tinham conotações políticas) é um elemento essencial da história do povo bíblico. É difícil dizer, em cada caso concreto, se foi a motivação religiosa ou política que foi a força inicial que confirmou um determinado grupo. Para entender esta dificuldade temos de saber, desde logo, que para Israel e para Judá o político e o religioso não são mais do que aspectos diferentes da mesma realidade.

Apesar de não se saber ao certo quando é que os fariseus apareceram, sabe-se que estão ligados aos Macabeus e Asmoneus, por volta do ano de 173 a.C. A decisão de Simão Macabeu se auto-nomear, em 142 a.C., Rei e Sumo Sacerdote teve consequências graves junto dos judeus crentes. Por isso, no princípio, os fariseus eram apenas um movimento piedoso que protesta contra a mundanização profana do sacerdócio e monarquia dos Asmoneus. 

Os fariseus são «santos» (o sentido etimológico da palavra ‘fariseu’ é «separar» que tem origem na palavra hebraica parash) separaram-se dos Asmoneus, julgados infiéis. Índigos sobretudo por causa do sangue que, necessariamente, derramavam nas suas guerras contra os inimigos. Desta maneira tornavam-se impuros perante a Lei e não podiam, de modo nenhum, exercer a função de Sumo Sacerdote. 

Assim, os fariseus são pessoas piedosas que vivem dependentes do cumprimento escrupuloso da Lei (até aos mínimos detalhes). Foi precisamente este formalismo que Jesus não se cansou de denunciar (Mt. 23). Nesta perspectiva religiosa foi um grupo radical. Viviam entre as pessoas (enquanto os essénios se refugiaram na comunidade de Qumrân) e acabaram por se tornar numa espécie de ‘directores de consciência moral’. 
Politicamente foi um grupo oportunista, pelo menos no tempo de Jesus, quando aceitaram serem fiéis ao Imperador Augusto, por imposição de Herodes Magno. Foi assim que perderam bastante da sua autoridade moral e política junto do povo. Só depois do ano de 70, após a derrocada de Jerusalém, e terminado o poder dos saduceus e dos sacerdotes, é que os fariseus voltaram a dominar o mundo judaico e a salvar Israel de perder a sua identidade religiosa, em confronto com algumas das primeiras comunidades cristãs.

Os Saduceus são um grupo dentro do judaísmo. Apesar de, por vezes, se designar o «partido dos saduceus» não podemos considerar tanto um grupo político mas muito mais religioso. Não sabemos desde quando existe esse grupo, sendo que a sua origem está no período persa ou helenístico (536-170 a.C). O nome dos saduceus deriva de Sadoq, (não da palavra saddîq que significa o justo como muitos pensavam) referindo-se provavelmente a Sadoq que, junto com Abiatar (2 Sam. 8, 17) - sacerdote do tempo de David. 

Sadoq foi considerado como pertencente a legítima família pontifical. Deste modo, os saduceus têm a pretensão de ser a legítima casa sacerdotal. Por muitos motivos, ao longo da história, o nome «saduceus» foi perdendo parte do sentido originário. O característico dos saduceus já não foi o serem filhos legítimos de Sadoq, mas a disposição espiritual contrária à línea farisaica.

A doutrina dos Saduceus, da casta aristocrática, sobretudo sacerdotal, é mal conhecida. Eram um grupo pequeno – um grupo sacerdotal em torno do Sumo Sacerdote. Parecem não reconhecer outra lei que o Pentateuco (e não os Profetas); ao contrário dos fariseus não crêem na ressurreição nem nos anjos (Act. 23,8). Religiosamente são tradicionalistas e politicamente colaboram com os romanos para manterem o seu poder. Controlam o Templo e a sua economia e dominam o Sinédrio (Supremo tribunal de Israel). 

Serão muito duros com Jesus e com o cristianismo nascente. Foram eles que entregaram Jesus a Pilatos, para ser morto, por motivos religiosos e políticos. Viram nele um blasfemo e um homem de ideias messiânicas capaz de arrastar multidões e pôr em perigo a estabilidade religiosa e política que sempre defenderam. Todavia, não tinham vitalidade religiosa bastante para sobreviverem ao desastre do ano 70 e desaparecem então da história. 

Os Essénios são uma espécie de monges que viviam em comunidade nas margens do Mar Morto (a sua doutrina passou a ser mais conhecida depois da descoberta dos manuscritos de Qumrân, por um jovem pastor beduíno – Muhammad edh-Dhib - em 1947). Foram um grupo que protestaram contra o sacerdócio mundano e imoral do templo de Jerusalém, assim como contra o culto vigente no mesmo templo. Assim, criticam, mordazmente, os Sumos Sacerdotes de Jerusalém como usurpadores do verdadeiro sacerdócio.
Sob a direcção de um sacerdote, chamado Mestre de Justiça, separaram-se dos outros judeus que julgam muito pouco fervorosos. Em vez de sacrifícios reuniam-se para participar em banquetes sagrados comunitários. Não se casavam e viviam do trabalho manual. Todas as propriedades eram comuns, fomentando assim um espírito de fraternidade. Vivem na oração e na meditação das Escrituras, preparando activamente a vinda do Reino de Deus. O seu mosteiro será destruído pelos Romanos em 70. São «fanáticos» e tradicionalistas.

Os Samaritanos, como o próprio nome indica, eram habitantes da Samaria, descendentes da população mista (israelita e pagã). Não formam uma seita propriamente dita. Os Samaritanos afastaram-se do judaísmo oficial. Têm o Pentateuco em comum com os Judeus, mas construíram o seu próprio Templo no monte Garizim (2Rs. 17, 24-28), por este motivo os Judeus (habitantes da Judeia – ao sul) consideravam-nos pagãos. Por isso, as relações entre eles e os Judeus são muito tensas (Cf. Lc. 9,52; Jo. 4,9; 8,48). O comportamento de Jesus a seu respeito vai escandalizar os Seus contemporâneos (Jo. 4,5-.40; Lc. 10,13; 17,10-17). A missão cristã desenvolver-se-á primeiro entre eles (Act. 1,8: 8,5-25; 9,31;15,3). 

Outros grupos com menor expressão: Zelotas (zelavam pela independência de Israel); Herodianos (partidários da dinastia de Herodes) e Movimentos Baptistas (Baptismo como rito de iniciação).

O clero é um grupo bastante hierarquizado. No cume da hierarquia encontra-se o Sumo Sacerdote. Os restantes sacerdotes do Templo fazem igualmente parte aristocracia e todos são saduceus. Os sacerdotes rurais andam à volta de 7000. Muito próximos do povo, partilham a sua vida, ofício e pobreza. Repartidos em 24 secções ou classes, exercem a sua função no Templo, cada um por sua vez, durante uma semana por ano, assim como nas três festas de peregrinação. Os levitas, espécie de baixo clero que perdeu todo o poder, são os parentes pobres do clero. Cerca de 10.000, repartidos também por 24 secções, exercem, uma semana por ano, no Templo, funções subalternas: preparação dos sacrifícios, recebimento dos dízimos, música, policiamento do Templo. 

Os anciãos são uma espécie de aristocracia laica, de contornos mal definidos. Aqui há também uma grande diferença entre os chefes de aldeia e o pequeno grupo de ricos comerciantes ou rendeiros que se senta no Sinédrio de Jerusalém. Estão agarrados ao seu poder e, por isso, inclinam-se ora para os ocupantes romanos, ora para o Sumo Sacerdote. Parecem ser saduceus. 

Os escribas ou doutores de Lei (a nossa palavra escriba deriva do latim scribere) são um grupo de Judeus que liam, escreviam e interpretavam as Escrituras Sagradas. Ao princípio, este múnus estava ao encargo dos sacerdotes mas, depois do Exílio, os sacerdotes tornaram-se nos senhores do Templo e do poder, na dependência do Sumo Sacerdote, que era o chefe da nação, uma vez que não existia rei. No século III a.C., os escribas são sobretudo leigos, mas no tempo de Jesus há escribas leigos, juntamente com sacerdotes e levitas. 

Por volta dos 40 anos, o mestre ou doutor ordenava-se escriba através da imposição das mãos e ficava com o direito de fazer parte do Sinédrio. Com toda a sua importância, o escriba acabava por se manifestar como alguém superior e a quem se deviam honras e uma certa veneração por parte do povo. (cf. diatribe – Mt 23, 6-7) Têm uma grande influência na sua qualidade de intérpretes oficiais das Escrituras, tanto na vida corrente como perante os tribunais. Verdadeiros mestres do pensamento, saídos do povo, partilham muitas vezes a sua pobreza. 

Os publicanos são cobradores de impostos mas não são os ricos rendeiros gerais, antes os seus auxiliares. Contudo, não podemos identificar sem mais como uma ‘espécie’ de funcionários das finanças do tempo de Jesus. No Império pagavam-se muitos impostos: nas fronteiras, nas estradas e saídas das cidades, nas pontes, no comércio de mercadorias, nos portos… E os publicanos procuravam cobrar os impostos por conta do ocupante romano; por esta razão e porque têm tendência para aumentar os impostos por sua própria conta, são mal vistos e tidos por pecadores públicos. Não só enganavam as pessoas, como também estavam ao serviço do Império – duas razões que alimentavam o ódio e o desprezo da população. Cada província, ou parte dela, era administrada por um publicano, que pagava uma grande soma anual ao procurador ou tetrarca para poder cobrar todos os impostos do seu distrito.

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